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O Brasil enfrenta uma “epidemia de adoecimento mental” no
ambiente de trabalho, agravada por anos de retrocessos nas políticas públicas
de proteção ao trabalhador. O alerta é de Pedro Tourinho, presidente da
Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho
(Fundacentro), em entrevista ao Conexão BdF, do Brasil de Fato, na última
segunda-feira (28), Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho.
Tourinho revelou que apenas em 2024, o Brasil registrou 470
mil afastamentos relacionados a transtornos como depressão e ansiedade. “A
pressão que massacra o trabalhador hoje está relacionada a cobrança de metas
irrealizáveis, baixa clareza nas tarefas do processo de trabalho, relações de
assédio frequentes nos ambientes de trabalho e questão dos horários e jornadas
de trabalho”, explicou. Para ele, o fim da jornada 6 x 1 é uma das discussões
“mais importantes do país neste momento”.
A crise, no entanto, não é acidental. Segundo Tourinho, ela
é fruto de escolhas políticas. Durante os governos de Michel Temer (MDB) e Jair
Bolsonaro (PL), houve “um ataque sistemático” às normas de saúde e segurança no
trabalho. “Foi um período em que toda a agenda de proteção à saúde do
trabalhador foi duramente atacada. Isso favoreceu, evidentemente, o avanço de
práticas que não eram comprometidas com a saúde e a segurança dos trabalhadores
e das trabalhadoras”, denunciou.
O presidente da Fundacentro lembrou que o Brasil,
historicamente, já figurava entre os países com mais acidentes de trabalho no
mundo. Em 2024, foram registrados cerca de 740 mil acidentes, com 2,4 mil
mortes registradas. Ele ressalta que os números reais podem ser ainda maiores
devido à situação crescente de informalidade no Brasil e à subnotificação.
Mudanças climáticas agravam riscos
Além do desmonte das proteções legais, as mudanças
climáticas colocam novos desafios à segurança dos trabalhadores. Tourinho
destacou que o trabalho ao ar livre, especialmente no agronegócio e na
construção civil, já se tornou inseguro em determinadas épocas do ano devido às
altas temperaturas.
“O Brasil já tem uma história muito consolidada de
identificação do adoecimento dos trabalhadores do setor sucroalcooleiro, nos
canaviais, com dezenas de óbitos por exaustão relatadas no trabalho na lavoura
de cana. Isso, infelizmente, com a mudança climática, tende a se estender para
outros contextos de trabalho rural e a céu aberto de modo geral, inclusive no
contexto urbano”, afirmou.
Reconstrução é urgente
Diante desse cenário, Tourinho comemorou a autorização de
65 novas vagas em concurso público para a Fundacentro, após mais de uma década
de sucateamento, anunciadas pela ministra da Gestão e da Inovação em Serviços
Públicos, Esther Dweck. “Não tenho dúvidas de que isso vai significar não só a
recuperação das perdas que nós tivemos nos últimos anos, como a
sustentabilidade de uma unidade tão importante para as próximas décadas por via
um gesto muito claro do presidente Lula, do ministro [do Trabalho] Luiz Marinho,
de reconstruir de fato um ambiente de trabalho mais seguro e mais saudável”,
avaliou.
Para o presidente da Fundacentro, a construção de melhores
ambientes de trabalho é parte essencial da luta por dignidade e justiça social.
“O trabalho é onde realizamos nossos planos e sonhos, onde conquistamos o
dinheiro para construir nossas vidas. No entanto, também é um espaço de
sofrimento, silêncio, submissão e violência. Por isso, é fundamental sempre
pensar na saúde e segurança do ambiente de trabalho”, concluiu.