
(Foto: Marcelo Camargo/ Agência Brasil)
O controle rigoroso de gastos do governo visando o
superávit fiscal deve comprometer a execução de projetos educacionais
estratégicos e até mesmo metas de investimentos previstos no Plano Nacional de
Educação (PNE). Isso é o que indica um relatório elaborado pelo Instituto de
Estudos Socioeconômicos (Inesc) a respeito da execução e financiamento de
políticas públicas federais.
O documento intitulado Orçamento e Direitos: balanço da
execução de políticas públicas (2024) foi divulgado nesta terça-feira (29). O
relatório traz um panorama sobre a atuação do governo em várias áreas. O Brasil
de Fato teve acesso com exclusividade ao trecho que trata de políticas de
educação.
Nele, o Inesc aponta, por exemplo, falta de verbas para o
programa Pé-de-Meia, lançado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2023.
Ao analisar o Orçamento de 2025, o instituto constatou que o Pé-de-Meia só tem
R$ 1 bilhão reservado para o pagamento de bolsas de estudo para estudantes do
Ensino Médio. O próprio Ministério da Educação (MEC) prevê no site oficial do
programa um investimento anual de R$ 12,5 bilhões em bolsas.
“Foi colocado R$ 1 bilhão no Orçamento porque é o que
cabia”, explicou a Cleo Manhas, assessora política do Inesc. “A regra fiscal
ficou restrita a tal ponto que, para criar um novo programa, tem que cortar de
algum lugar. Algum gasto terá de ser cortado se o governo quiser mesmo manter o
Pé-de-Meia.”
Manhas disse que as bolsas de estudos são uma política
pública boa e necessária. No entanto, estão, sob risco por conta do chamado
arcabouço fiscal criado pelo governo federal e por metas fiscais que visam a
criação de uma poupança para pagamento da dívida.
O arcabouço fiscal prevê que o crescimento de todos os
gastos do governo só podem crescer numa proporção menor que o crescimento da
arrecadação. Tudo isso, visando a redução da dívida pública federal.
Investimentos na educação
De acordo com o relatório do Inesc, essa limitação tem
causado restrições em todas as áreas do governo. No caso da educação, não é
diferente. Acontece que, naquela área, há dois agravantes, segundo Manhas.
O primeiro é que a Constituição determina que 18% da
arrecadação de impostos seja destinada a gastos com educação. O arcabouço, por
sua vez, contraria isso ao determinar que os gastos precisam crescer menos que
a arrecadação. De acordo com o relatório do Inesc, se o arcabouço for cumprido,
em breve, o governo descumprirá o piso constitucional da educação, algo
considerado como retrocesso pelo instituto.
O segundo é que o PNE prevê que o Brasil invista 10% do seu
Produto Interno Bruto (PIB) em educação. Hoje, o investimento é de cerca de 5%.
Se a restrição orçamentária continuar comprometendo investimentos na área, a
promessa nunca será cumprida.
Em 2024, houve aumento real (além da inflação) da execução
financeira de 3% nos recursos da Função Educação em comparação com o ano
anterior, passando de R$ 155,9 bilhões em 2023 para R$ 166,6 bilhões. Esse
crescimento se concentrou nas despesas obrigatórias. Já as despesas
discricionárias — mais vulneráveis às restrições do arcabouço fiscal, segundo o
Inesc — caíram 14%, de R$ 50,74 bilhões para R$ 43,71 bilhões.
Para 2025, segundo o
Inesc, o orçamento destinado à educação terá um aumento de apenas 1%, passando
de R$ 176,5 bilhões em 2024 para R$ 178,42 bilhões.